16 agosto, 2010

A arte da gastronomia


Sei que às vezes é fácil se deixar levar pela rotina e fazer sempre a mesma coisa, ir nos mesmos lugares, frequentar os mesmos locais, sem aquela inspiração para procurar algo novo ainda mais no inverno que fez esta semana. Mas quando o assunto é gastronomia não importa o tempo ou o quao preguiçosa possa estar  ainda mais quando o novo restaurante é filhote de um excelente como o Rã-chu em Campinas.
Essa foi a pérola do final de semana Estação Mogiana Churrascaria, que claro além da excelente picanha tem uma das melhores saladas de rúcula com cebola que você possa imaginar.
O almoço de domingo em família é um destes deliciosos momentos de comunhão que a mesa proporciona. É sensacional a experiência de comer não tendo como única finalidade a energia dos carboidratos ou a fonte de vitamina dos legumes. É claro que tudo isso é importante. Tão importante para a saúde e para a sobrevivência que a natureza conferiu no ato de comer, o sentido do prazer.
 E a humanidade, à medida que foi se sofisticando, elevou o ato de preparar e consumir o alimento ao estado de arte, não é a toa que os lançamentos imobiliários atuais têm um forte apelo a varanda gourmet.
É verdade que comer acalma e torna as pessoas alegres?
Fome é uma sensação desagradável provocada por neurotransmissores.
Então deduz se que alimentar-se acalma e diminui o estresse. Assim que a pança é forrada, o cérebro produz impulsos até derramar uma porção extra de serotonina pelo organismo, gerando uma sensação de bem-estar quando comemos. E olha que não sou nada chocólatra!!!
E, desde que começamos a nos organizar como espécie, fizemos do ato de comer um momento de trocas.
Se trocamos elementos químicos com o planeta, entre nós trocamos elementos emocionais.
A mesa é o local onde todos se colocam no mesmo plano, onde os olhares têm mais chance de se cruzarem.
Um almoço em família é um momento de reposição de energia amorosa.
Um jantar com seu amor é uma troca de cumplicidade.
E um café da manhã, ainda que sozinho, é o prenúncio das emoções de viver mais um dia.
Uma refeição não é apenas uma refeição, é uma cerimônia em que vida será transformada em mais vida.
A gastronomia é a arte suprema do gosto, provavelmente, a mais completa entre todas. A verdadeira arte é aquela que desperta sensações que não são provocadas pelos órgãos dos sentidos a que, primariamente, se destinam. A boa arte é assim, surpreendente. Te pega pelos olhos ou pelos ouvidos e te sequestra o corpo inteiro, além da alma, claro.
Quer relaxar sente se a mesa ,  decore de forma simples e aconchegante, e verá que seu jantar é mais que um jantar, é uma sinfonia bem orquestrada de sensações.
A boa culinária é assim, nos toca por inteiro. E não importa se estamos falando da alta gastronomia francesa harmonizada com vinhos bordeaux, ou do virado à paulista servido no restaurante por kilo e acompanhado por uma cerveja gelada.
E é extremamente prazeroso ano após ano entrar  na minha casa e sentir  o alho misturando-se com a cebola, acariciados pelo azeite em uma frigideira quente.
A boa culinária não é cara nem barata, não é sofisticada ou simples. É apenas culinária: vale-se de bons ingredientes, os combina com inteligência, respeita os temperos e é feita com dedicação e amor. Os pratos traduzem os sentimentos de quem os prepara, como vemos na literatura e no cinema.
 Em Como Água Para Chocolate, Tita, apaixonada transmite seu amor pelos pratos que prepara. Não é um filme sobre culinária, mas sobre erotismo.
Quando Babette, em A Festa de Babette, gasta sua pequena fortuna para oferecer um festim para seus patrões e seus convidados e é repreendida por sua patroa, que lhe diz que ela agora havia ficado pobre, responde com olhos serenos: “Uma artista nunca é pobre”.
Cozinheiras e cozinheiros, profissionais ou amadores, empregados ou patrões; todos são ricos de alma se se derem conta de que são artistas entre as panelas e os ingredientes.
A culinária é uma técnica, sim – senão, não haveria receitas, mas é uma técnica que pode ser elevada à condição de arte. Para tanto, o ingrediente principal não é a receita, é o amor de quem a prepara.

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