29 março, 2011

Há muitas moradas na casa de meu Pai

Mas enquanto a gente tá aqui amarrado nesse corpicho e a única morada que podemos conhecer é a Terra por que não aproveitar?
Se somos milenares e certamente vamos conhecer e viver em outras moradas, então começe já , há mais de centenas de países por aí ,milhares de cidades com tanta diversidade cultural , geográfica e uma  infinidade de coisas a aprender.
Reproduzo aqui o pensamento de Mário Quintana sobre a verdadeira arte de viajar..., diz ele:
"A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.
Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!"  
E segundo Ricardo Piglia tudo o que vemos e sentimos pelos caminhos trilhados nas cidades que visitamos , nos ajudam a contar com palavras perdidas a história de todos nós .  
Quando vi o vídeo anexo meu primeiro pensamento foi que presente desta morada essa pesquisadora ganhou, ainda bem que não existe pacote turístico para este tipo de experiência porque  é o tipo de lembrança que jamais deverá ser comercializada. AMEI!!!
 

23 março, 2011

A lenda egípcia do peixinho vermelho

"No centro de formoso jardim, havia um grande lago, adornado de ladrilhos azul- turquesa.
Alimentado por diminuto canal de pedra, escoava suas águas, do outro lado, através de grade muito estreita.
Nesse reduto acolhedor, vivia toda uma comunidade de peixes, a se refestelarem, nédios e satisfeitos, em complicadas locas, frescas e sombrias. Elegeram um dos concidadãos de barbatanas para os encargos de rei, e ali viviam, plenamente despreocupados, entre a gula e a preguiça.
Junto deles, porém, havia um peixinho vermelho, menosprezado de todos.
Não conseguia pescar a mais leve larva, nem refugiar-se nos nichos barrentos. Os outros, vorazes e gordalhudos, arrebatavam para si todas as formas larvárias e ocupavam, displicentes, todos os lugares consagrados ao descanso.
O peixinho vermelho que nadasse e sofresse.
Por isso mesmo era visto, em correria constante, perseguido pela canícula ou atormentado de fome.
Não encontrando pouso no vastíssimo domicílio, o pobrezinho não dispunha de tempo para muito lazer e começou a estudar com bastante interesse.
Fez o inventário de todos os ladrilhos que enfeitavam as bordas do poço, arrolou todos os buracos nele existentes e sabia, com precisão, onde se reuniria maior massa de lama por ocasião de aguaceiros.
Depois de muito tempo, à custa de longas perquirições, encontrou a grade do escoadouro.
À frente da imprevista oportunidade de aventura benéfica, refletiu consigo:
- "Não será melhor pesquisar a vida e conhecer outros rumos?"
Optou pela mudança. Apesar de macérrimo, pela abstenção completa de qualquer conforto, perdeu várias escamas, com grande sofrimento, a fim de atravessar a passagem estreitíssima. Pronunciando votos renovadores, avançou, otimista, pelo rego d'água, encantado com as novas paisagens, ricas de flores e sol que o defrontavam, e seguiu, embriagado de esperança... Em breve, alcançou grande rio e fez inúmeros conhecimentos. Encontrou peixes de muitas famílias diferentes, que com ele simpatizaram, instruindo-o quanto aos percalços da marcha e descortinando-lhe mais fácil roteiro. Embevecido, contemplou nas margens homens e animais, embarcações e pontes, palácios e veículos, cabanas e arvoredo.Habituado com o pouco, vivia com extrema simplicidade, jamais perdendo a leveza e a agilidade naturais. Conseguiu, desse modo, atingir o oceano, ébrio de novidade e sedento de estudo. De início, porém, fascinado pela paixão de observar, aproximou-se de uma baleia para quem toda a água do lago em que vivera não seria mais que diminuta ração; impressionado com o espetáculo, abeirou-se dela mais que devia e foi tragado com os elementos que lhe constituíam a primeira refeição diária.Em apuros, o peixinho aflito orou ao Deus dos Peixes, rogando proteção no bojo do monstro e, não obstante as trevas em que pedia salvamento, sua prece foi ouvida, porque o valente cetáceo começou a soluçar e vomitou, restituindo-o às correntes marinhas. O pequeno viajante, agradecido e feliz, procurou companhias simpáticas e aprendeu a evitar os perigos e tentações. Plenamente transformado em suas concepções do mundo, passou a reparar as infinitas riquezas da vida. Encontrou plantas luminosas, animais estranhos, estrelas móveis e flores diferentes no seio das águas. Sobretudo, descobriu a existência de muitos peixinhos, estudiosos e delgados tanto quanto ele, junto dos quais se sentia maravilhosamente feliz. Vivia, agora, sorridente e calmo, no Palácio de Coral que elegera, com centenas de amigos, para residência ditosa, quando, ao se referir ao seu começo laborioso, veio a saber que somente no mar as criaturas aquáticas dispunham de mais sólida garantia, de vez que, quando o estio se fizesse mais arrasador, as águas de outra altitude, continuariam a correr para o oceano. O peixinho pensou, pensou... e sentindo imensa compaixão daqueles com quem convivera na infância, deliberou consagrar-se à obra do progresso e salvação deles. Não seria justo regressar e anunciar-lhes a verdade? não seria nobre ampará-los, prestando-lhes a tempo valiosas informações? Não hesitou. Fortalecido pela generosidade de irmãos benfeitores que com ele viviam no Palácio de Coral, empreendeu comprida viagem de volta. Tornou ao rio, do rio dirigiu-se aos regatos e dos regatos se encaminhou para os canaizinhos que o conduziram ao primitivo lar. Esbelto e satisfeito como sempre, pela vida de estudo e serviço a que se devotava, varou a grade e procurou, ansiosamente, os velhos companheiros. Estimulado pela proeza de amor que efetuava, supôs que o seu regresso causasse surpresa e entusiasmo gerais. Certo, a coletividade inteira lhe celebraria o feito, mas depressa verificou que ninguém se mexia. Todos os peixes continuavam pesados e ociosos, repimpados nos mesmos ninhos lodacentos, protegidos por flores de lotus, de onde saíam apenas para disputar larvas, moscas ou minhocas desprezíveis. Gritou que voltara a casa, mas não houve quem lhe prestasse atenção, porquanto ninguém, ali, havia dado pela ausência dele. Ridicularizado, procurou, então, o rei de guelras enormes e comunicou-lhe a reveladora aventura. O soberano, algo entorpecido pela mania de grandeza, reuniu o povo e permitiu que o mensageiro se explicasse. O benfeitor desprezado, valendo-se do ensejo, esclareceu, com ênfase, que havia outro mundo líquido, glorioso e sem fim. Aquele poço era uma insignificância que podia desaparecer, de momento para outro. Além do escoadouro próximo desdobravam-se outra vida e outra experiência. Lá fora, corriam regatos ornados de flores, rios caudalosos repletos de seres diferentes e, por fim, o mar, onde a vida aparece cada vez mais rica e mais surpreendente. Descreveu o serviço de tainhas e salmões, de trutas e esqualos. Deu notícias do peixe-lua, do peixe-coelho e do galo-do-mar. Contou que vira o céu repleto de astros sublimes e que descobrira árvores gigantescas, barcos imensos, cidades praieiras, monstros temíveis, jardins submersos, estrelas do oceanos e ofereceu-se para conduzi-los ao Palácio de Coral, onde viveriam todos, prósperos e tranqüilos. Finalmente os informou de que semelhante felicidade, porém, tinha igualmente seu preço. Deveriam todos emagrecer, convenientemente, abstendo-se de devorar tanta larva e tanto verme nas locas escuras e aprendendo a trabalhar e estudar tanto quanto era necessário à venturosa jornada. Antes que terminou, gargalhadas estridentes coroaram-lhe a preleção.
Ninguém acreditou nele. Alguns oradores tomaram a palavra e afirmaram, solenes, que o peixinho vermelho delirava, que outra vida além do poço era francamente impossível, que aquelas história de riachos, rios e oceanos era mera fantasia de cérebro demente e alguns chegaram a declarar que falavam em nome do Deus dos Peixes, que trazia os olhos voltados para eles unicamente. O soberano da comunidade, para melhor ironizar o peixinho, dirigiu-se em companhia dele até a grade de escoamento e, tentando, de longe, a travessia, exclamou, borbulhante:
- "Não vês que não cabe aqui nem uma só de minhas barbatanas? Grande tolo! vai-te daqui! não nos perturbes o bem-estar... Nosso lago é o centro do Universo... Ninguém possui vida igual à nossa!..."
Expulso a golpes de sarcasmo, o peixinho realizou a viagem de retorno e instalou-se, em definitivo, no Palácio de Coral, aguardando o tempo.
Depois de alguns anos, apareceu pavorosa e devastadora seca.
As águas desceram de nível. E o poço onde viviam os peixes pachorrentos e vaidosos esvaziou-se, compelindo a comunidade inteira a perecer, atolada na lama..."

14 março, 2011

Os olhos falam o que a boca silencia

Silencia porque nem tudo que pensamos pode ser verbalizado, porque nem todo lixo sentimental pode ser despejado no outro, ainda que muitos o façam, e outros reprimem para manter o mínimo de educação.
Mas os olhos, eles entregam, talvez porque exalem parte de nossa alma então não adianta sufocar o descaso, a indiferença , o desamor eles brotam dos seus olhos mas infelizmente não são suaves e puros como uma lágrima.
Só queria ter mais fé em acreditar que minhas preces possam te transformar te algum jeito porque por hora me entristece saber que tudo isso faz mal, mas muito mal e começa  por ferir você.
Liberte-se, transforme, ainda há tempo....
Urge compreendermos que todos somos perfectíveis embora uns sejam mais e outros menos.

10 março, 2011

Questa libertà dolce

Para quem venera a sua como eu, fica mais fácil entender essa metáfora dos Porcos-espinhos de Schopenhauer, um livro que aborda sobre este dilema essencial da humanidade moderna.
Quando os porcos espinhos se aproximam o bastante para se esquentar acabam se espetando nos espinhos um dos outros, daí para um paralelo as relações humanas é uma ponte bem fácil de correlacionar não?
Para evitar a dor e a irritação do excesso de proximidade os porcos espinhos se afastam mas assim que se separam sentem frio novamente e se aproximam, se espetam, se afastam e assim infinitamente....
Em nossos relacionamentos quantas vezes avançamos e retrocedemos no território um do outro, negociando, recalibrando para encontrar a distância correta entre autonomia e cooperação , entre companheirismo e incentivo num equilíbrio sutil e delicado que de algum modo mantenha em crescimento  o jardim da intimidade.
Na vida precisamos de partes equilibradas de autonomia e intimidade, é cruel se sentir confinado , limitado ou tolido por alguém, aquele equilíbrio mágico que "dá ao outro poder sem tirar poder, que capacita sem incapacitar, que satisfaz sem sobrecarregar".
Muuuito delicado esse funcionamento da opressão mútua, silenciosa , quase de veludo existente principalmente nos casamentos; afinal na nossa concepção de amor ainda limitamos, estreitamos porque a grande paixão que sentimos no coração quando nos apaixonamos só se iguala as grandes restrições que necessariamente virão em seguida.
Não consigo me imaginar num duelo destes, por anos lutei para conquistar a dolce libertà , a privacidade , a delícia do ir e vir, do fazer ou não fazer , do não se justificar, do não informar, do não prestar a menor satisfação taí uma palavrinha que não combina com minha alma.
Vivo sozinha há um bom tempo, já me acostumei a organizar minha vida sem ter de levar em conta os desejos de outra pessoa, já perdi a prática com esse tipo de conflito, não consigo me imaginar em algo que me prenda, que me domestique; não tenho a energia de um bonsai que pode viver séculos e que sua beleza ímpar é resultado da sua própria restrição, estou mais para a trepadeira que cresce em liberdade.
A tranquilidade e a harmonia costuma me entorpecer  quando percorro sozinha uma nova paisagem, um novo caminho, pode ser que tudo mude mas por hora não consigo refrear meus impulsos de perambular por aí.

Considerações

Partindo do princípio que
Deus é o criador de tudo...
Causa primária de todas as coisas...
Mas Deus não criou o mal
Dizem que o  mal é a ausência do bem
Infelizmente esse argumento  não me esclarece, não me basta
Se tudo que existe foi criado, quem criou o mal?
Ninguém?
Ele só existe porque é a ausência do bem?
Ta aí uma dualidade que gostaria de entender melhor.

01 março, 2011

Minha gratidão a Dra Claudia Kronfly

Acho que todo mundo já se deparou com aquela afirmação de que as pessoas entram na nossa vida e não é por acaso....se eu voltar  um filme na minha cabeça há mais ou menos  um ano atrás posso lembrar de um passeio despretensioso até a padaria em que minha cadelinha nos acompanhou, no estacionamento encontramos com a Sra. Leila uma psicóloga simpática , dona de duas poodles que tinham por volta de seus 16 anos de vida e que aparentavam menos de cinco, entre os mimos aos seus caezinhos nada mais nada menos que geléia real no café da mãnhã.....
Aqui em casa a realidade é beeemm mais pé no chão embora tenha de confessar que mimo muito meus animais de estimação , mas o post era para registrar e agradecer que graças a Leila  e a nossa conversa animada , conheci a Dra Claudia Kronfly; uma veterinária excepcional e apaixonada por animais  que conseguiu com seu profissionalismo e em pouco mais de meia hora de conversa me convencer que a cirurgia de castração e a de remoção de tártaro não eram assim  esse bicho papão que haviam me pintado durante anos, e quantos anos se passaram por conta desse medo.
Em homenagem a ela que não só cuidou com muito carinho da minha cadelinha nas duas cirurgias  mas que também é um ser humano incrível vou deixar esse post registrado e seu amoroso texto.
O AMOR DE UM CÃO
"A história que vou contar não é a única que vivi, mas é aquela que mudou a minha vida. Sou um “vira-lata” que vivia na rua, vagando sem rumo há não sei quanto tempo. Tempos difíceis de solidão, fome, frio, dor e medo… Mas não é disso que quero falar.


Um dia, quando minhas forças pareciam ter se esgotado, senti o calor de uma mão tocar-me o corpo sujo e ferido. Sim, havia sido ferido por um ser muito maldoso de quatro rodas. Estava frio e chovia muito naquele dia. Minhas feridas doíam meu estômago também, mas minha alma sofria muito mais que aquele velho corpo. Pulgas e carrapatos compartilhavam comigo daquele sofrimento.

Seria uma miragem alguém tocar-me com tanto amor? Quem se importaria com um velho cão andarilho, sujo e fedorento? Ela se importou e me recolheu.

Fechei os olhos, pois parecia um sonho e eu não queria acordar. Banhou-me em água quente, limpou minhas feridas, deu-me a mais deliciosa refeição que um dia pude provar. Naquele instante descobri o amor… O amor mais puro que alguém pode sentir por outro ser, o amor incondicional. Acho que nós dois sentimos isso ao mesmo tempo. Ela, ao tocar-me, parecia dizer: “você está seguro agora, será amado!”

Naquele dia também conheci um lar. Não sei se já tive um no passado, não consigo lembrar… mas ali havia uma família de verdade, todos pareciam me amar. Recebi cuidados médicos, boa alimentação, mas o que me curou de verdade foi o amor. Foi cada toque de suas mãos, seu olhar, suas palavras doces. Sim, ela era minha amada, minha amada “dona”.

Já vivemos juntos há um ano. Acho que comecei a viver de verdade à partir daquele dia, daquele toque. Amo-a de todo meu coração. Beijo com minhas lambidas suas mãos todas as vezes que me acaricia. Protejo-a todas as vezes que saímos juntos. Quando vamos passear, fico todo imponente, importante. Quero que todos me vejam com ela. Quase consigo “desfilar”, apesar do meu jeito desengonçado de andar. Não sou belo, não tenho pedigree, mas tenho tudo que preciso para ser feliz: AMOR.

Já dividi o meu espaço em casa com outros coitados que chegaram da rua, famintos como eu e que, depois de tratados, foram encaminhados para outros lares. Sim, minha “amada” é muito humana e salvou outros companheiros meus, mas somente eu fui o escolhido para ser o seu amor.

Não sei quanto tempo ainda me resta neste velho corpo, mas não me interessa saber. Vivemos um dia de cada vez. Não quero saber do passado nem do futuro. Temos um ao outro e nos amamos, e isso é tudo o que importa.* O “autor” desta crônica, Bimbo, foi encontrado na Rua Padre João Manoel, nos Jardins, em São Paulo, pela Dra. Claudia Souza Kronfly, da Clínica Veterinária Pet Patas"