23 setembro, 2011

Texto Daniel Piza

A sensibilidade da Su não deixou escapar, fui conferir o texto, realmente muito bom.
A crônica leva o nome" Ensaios d'amor , nome apropriado porque coloca o amor e o ensaio com algo em comum: a tentativa, o entendimento que deve sempre rever a si mesmo, a aproximação ciente de que o movimento é vital, não final; a recusa ao dogma da perfeição e ao mesmo tempo a crença de que sempre há o que melhorar.
O que ele chama de "paradoxo"? O fato de que o amor nasce sempre sob o signo do entusiasmo, da entrega febril, e depois vai se convertendo numa rotina tediosa, sem aventura, repleta de picuinhas e  injustiças.
O romance da libertação a dois gradualmente passa a ser o drama da prisão partilhada. E dão greve ao prazer, cometendo uma deslealdade antes mesmo de passar a uma traição concreta."
Cita Pascal Bruckner :" o amor na atualidade, em que não é a repressão que sufoca, mas a liberdade, ou melhor, o individualismo cínico de hoje entendido como liberdade.
As relações íntimas são calcadas nas do trabalho: o retorno sobre o investimento deve ser maximizado. Sonho com uma relação humana que jamais extravase: você me agrada, ficamos juntos, você me cansa, eu o dispenso. Experimentamos o outro como um produto"
"A internet estrutura a busca do parceiro como um mercado, é o paradoxo da cultura consumista.
A indústria da auto ajuda e dos anti depressivos induz à expectativa de que os problemas sejam resolvidos como " fast food", como um objeto de consumo que sacia meus desejos, na verdade insaciáveis em sua rede de dependência; o desejo novo, afinal, tem como trunfo parecer mais promissor, e no entanto as decepções se multiplicam na mesma escala."
Não se pode  pensar no amor verdadeiro "sem disposição para o autosacrifício em prol do parceiro" .E autosacrifício é tudo que nossa era desencoraja.
"O amor é uma aventura de que não queremos nos privar, mas com a condição de que ela não nos prive de nenhuma outra."
Seduzir se torna uma caça a troféus, ao exercício da vaidade- como alguém quando numa relação estável diz que " só não quero saber" de eventuais casos de sua parceira, na verdade está querendo dizer que quer ter o direito de fazer o que quiser desde que consiga não magoar o outro.
Há uma maldade nova em nossos amores: a adesão a mim mesmo me autoriza a apunhalar o outro pelas costas.
Trata-se o outro com valores utilitaristas: se não serve mais, será descartado, a fidelidade se torna um esforço que termina deixando um com raiva do outro. O pior, diz Bruckner, é que o casal se mostra indigno da paixão que o fez começar e, assim, deixa a monotonia vencer.
Será que não se acredita mais no amor sólido, livres da indulgência mútua?
Um bom relacionamento é uma conversa variada e feliz, é amizade e sexualidade, às quais se pode acrescentar ternura, o sentimento de que o ser amado mexe muito mais conosco do que um simples amigo(a) atraente.
É um equilíbrio sempre móvel entre segurança e aventura, a não ser vencido pela desconfiança ou egoísmo; não faz sentido ferir quem amamos, cobrando perfeição como se o menor desapontamento fosse justificativa para magoá-lo, para trocar uma bela história por um laço superficial.
O amor duradouro é uma conversa contínua, uma troca de duas vozes sempre redescobrindo a si mesmas. É um ensaio, não um contrato.

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