10 março, 2011

Questa libertà dolce

Para quem venera a sua como eu, fica mais fácil entender essa metáfora dos Porcos-espinhos de Schopenhauer, um livro que aborda sobre este dilema essencial da humanidade moderna.
Quando os porcos espinhos se aproximam o bastante para se esquentar acabam se espetando nos espinhos um dos outros, daí para um paralelo as relações humanas é uma ponte bem fácil de correlacionar não?
Para evitar a dor e a irritação do excesso de proximidade os porcos espinhos se afastam mas assim que se separam sentem frio novamente e se aproximam, se espetam, se afastam e assim infinitamente....
Em nossos relacionamentos quantas vezes avançamos e retrocedemos no território um do outro, negociando, recalibrando para encontrar a distância correta entre autonomia e cooperação , entre companheirismo e incentivo num equilíbrio sutil e delicado que de algum modo mantenha em crescimento  o jardim da intimidade.
Na vida precisamos de partes equilibradas de autonomia e intimidade, é cruel se sentir confinado , limitado ou tolido por alguém, aquele equilíbrio mágico que "dá ao outro poder sem tirar poder, que capacita sem incapacitar, que satisfaz sem sobrecarregar".
Muuuito delicado esse funcionamento da opressão mútua, silenciosa , quase de veludo existente principalmente nos casamentos; afinal na nossa concepção de amor ainda limitamos, estreitamos porque a grande paixão que sentimos no coração quando nos apaixonamos só se iguala as grandes restrições que necessariamente virão em seguida.
Não consigo me imaginar num duelo destes, por anos lutei para conquistar a dolce libertà , a privacidade , a delícia do ir e vir, do fazer ou não fazer , do não se justificar, do não informar, do não prestar a menor satisfação taí uma palavrinha que não combina com minha alma.
Vivo sozinha há um bom tempo, já me acostumei a organizar minha vida sem ter de levar em conta os desejos de outra pessoa, já perdi a prática com esse tipo de conflito, não consigo me imaginar em algo que me prenda, que me domestique; não tenho a energia de um bonsai que pode viver séculos e que sua beleza ímpar é resultado da sua própria restrição, estou mais para a trepadeira que cresce em liberdade.
A tranquilidade e a harmonia costuma me entorpecer  quando percorro sozinha uma nova paisagem, um novo caminho, pode ser que tudo mude mas por hora não consigo refrear meus impulsos de perambular por aí.

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